Olá, pessoal!
Estou começando este blog com a intenção de registrar alguns textos...
Vamos começar e ver no que vai dar.
Sejam todos muito bem-vindos!
É só puxar a cadeira...

domingo, 10 de abril de 2016


Para a menina de tranças


Eu nasci naquela rua sem saída.
Acostumei a vez ou outra, ver a pequena rua cheia de carros. Gostava de ouvir a música que vinha, em várias vozes, rompendo a barreira dos portões gradeados e enchiam a minha casa. Música de igreja, eu sabia. Já tinha até ensaiado cantá-las em alguns momentos.
Às vezes, enquanto minha mãe trançava meu cabelo ou me ajudava com o dever, o som que vinha de lá era de reza...de choro, de tristeza.
Aquele lugar, do outro lado da minha rua, era vazio alguns dias e cheio demais em outros.
Num dia desses, em que a rua ficava sem espaço, me contaram que minha mãe tinha ido morar lá. Naquele outro lado da rua.
Não entendi muito bem por que. Diziam que agora ela morava com o Papai do Céu.
Puxa vida! Será que ele mora em frente a minha casa? E eu perdendo esse tempo todo olhando para o céu?
Fico daqui, olhando por entre as cruzes e por entre as flores que alguém esquece de vez em quando, esperando mamãe vir me ver. Lá deve ser tão legal, que ela até se esqueceu da hora da escola. Precisa trançar meu cabelo e me dar um beijinho!
Mas como ela não vem, vou assim mesmo, sem tranças, sem beijinhos...
Quero muito aprender a ler só para decifrar o endereço novo da minha mãe.
Quem sabe não escrevo uma carta?
Do alto do portão, já sei as letrinhas: C E M I T E R I O.
Vovó disse que um dia, nós vamos nos encontrar de novo.
Já deixei minha malinha pronta, quem sabe ela não aparece a noite e não vai pode esperar?
Já estarei pronta para irmos juntas!
E aí pessoal, nunca mais ficarei sem tranças e sem seus beijinhos!


Carla Xavier
Julho/2012

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