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domingo, 10 de abril de 2016


Para Cézar Augusto, meu tio/pai.

A casa das portas azuis

                   Não tendo mais casa de Vó, a cidade tão querida, já não nos acolhe como antes. 
               O abraço dado pelo portão já aberto, que sempre nos aguardava sorrindo, o aroma da comida preparada com tanto carinho, as risadas na varanda, em volta da mesa grande, a sombra fresca amarelo-amor da acácia, agora só estão na lembrança. Minto - a acácia continua lá, insistindo em florescer. 
             Entrar lá e ser nocauteada pelo silêncio me fez querer ensaiar, quem sabe, uma massagem cardíaca, revitalizadora. Algo que oxigenasse a minha respiração suspensa de saudade. Mas, quem diria, um sopro de vida me salvou.
             Em outro lugar sobrevivi. Naquela casa das portas azuis, afastada da cidade, encontrei a identidade perdida. Lá estão guardados tesouros que falam de nós. 
               Uma parede viva, onde as fotos sorriem e registram momentos únicos, inesquecíveis. Uma noiva, linda, apaixonada, oficializa uma história de amor. Crianças, agora adultas, contam sobre momentos de pura inocência. Irmãos, cinco mosqueteiros, nos dão lições de amizade. Um relógio cantor, por um tempo silenciado, mas que agora encontrou alguém que o encoraja em cordas diárias, a cada hora marcada, embaralha o que foi passado e presente. Alguns objetos, acolhidos pela sua utilidade de outrora: o abajur de cabeceira da Vó, que tantas vezes foi pedido de ajuda nas madrugadas, agora observa nosso sono tranquilo. A panela da sopa de galinha, antes sovada pela farinha e o caldo, figura como objeto bonito de decoração. A varanda ainda abriga as risadas poucas, é verdade, mas tão necessárias, energéticas.
                 No computador, uma pesquisa impressionante: um organograma cheio de raízes, troncos e folhas, retrato de curiosidade, trabalho árduo, beleza, dor e dúvidas . A surpresa das duzentas páginas escritas, prontas para vestir roupa de livro e a simplicidade tocante do “papel de bala”. Mais tocante do que um breve histórico escrito sobre o amigo-irmão mais velho? Nem sei mais. Nesse momento já estávamos afogados em lágrimas.
                   Para cada canto uma sensação, uma alegria saudosa. Para completar, cereja de bolo, o som do piano, companheiro de momentos inigualáveis. Alguns de extrema euforia e outros de extrema dor.
                Tudo isso encantado, se completa com o sorriso de quem nos recebe, de quem sempre cuidou de todos nós. Ele nos acolhe assim, não mais tão silencioso, não mais tão veloz, não mais tão levado, mas com colo de pai, de Vô, disfarçado de tio, com doçura de colo de amor.
                    Obrigada por nos guardar no seu imenso coração de portas azuis.

Carla Xavier
Janeiro de 2016

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